quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O toque de mestre de Zidane na candidatura do Catar

Doha, Catar. Hotel Four Seasons. Depois de três dias, Harold Mayne-Nicholls dava por encerrado seu trabalho por lá. Chefe de inspeção da Fifa, preparava a volta para casa. Na bagagem, o veredito. Os catarianos tinham condições de abrigar uma Copa do Mundo. Mas seriam necessários alguns avanços, claro. E aí vieram as tais ressalvas que assustaram a tanta gente no país.

Não bem ressalvas. Na verdade, lembranças. Lembranças de como o torneio havia crescido, de que o último Mundial disputado dentro daquelas dimensões fora jogado há muito tempo dali, no longínquo 1930. Enfim, para bom entendedor, a situação estava lá, para quem quisesse ver. Os leitos de hotel não eram suficientes, a qualidade do transporte tampouco. Nada disso, porém, parecia importar perto daquela verdade travestida em algumas muitas palavras: o Catar era pequeno demais para receber uma Copa.

Pequeno em extensão. Mas não só nisso. Também em simpatia. Faltava algo à campanha do país. Desde o início, tal impressão rondava por aí. Muitos consideravam a investida dos cartolas um desrespeito à comunidade do futebol. O que o Catar teria para oferecer? Que história no futebol?

Pois bem, com uma só manobra, essa e outras tantas perguntas começaram a cair por terra. OK, não uma manobra. Manobra é um termo muito político para coisa. Talvez tenha sido, não sei. Sou ingênuo. Prefiro ver a situação por um outro lado. Mais romântico, dentro daquilo que pareciam representar aquelas palavras. Mais que uma reivindicação, um chamado para o mundo.

“É hora”, disse. “De trazer a Copa para o Oriente Médio. O futebol pertence a todos. É hora de dá-lo ao Catar”, completou. Fim de vídeo. O responsável por tal alerta entra em cena. Um burburinho toma conta da sala. Zinedine, o Zidane, estava por lá. Pronto para esclarecer algumas questões. Técnicas? Não, não tinha cacife para tanto. O efeito sonhado já havia sido alcançado. O gelo fora rompido.

Pouco importava o longo histórico de vermelhos, Zizou sempre teve essa aura de justiça, de senso de humanidade. Parecia estar fazendo isso ali. Muitos compreenderam a mensagem. Essa e algumas outras. O que o mundo islâmico dera ao futebol até hoje? Zinedine. Para começar, talvez. E isso basta. Algo que muito provavelmente tenha passado despercebido durante toda a carreira do jogador, mas que, de uma forma ou de outra – e aqui vou eu, ingênuo, de novo – serviu para comover a Fifa e seus cartolas. Um novo toque de mestre do francês filho de argelinos.

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