sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010: Mourinho se consagra com a Inter e quebra hegemonia ofensiva catalã

Quando se abre espaço para a discussão sobre qual o melhor time de futebol do mundo atualmente, o favorito segue o mesmo de 2009: o Barcelona de Lionel Messi. Mas diferentemente da temporada passada, esta não foi tão favorável ao clube catalão quanto a conquistas, nem mesmo com o brilho do meia-atacante argentino. O espaço deixado foi ocupado por uma equipe que é o oposto do Barça, cujo elenco tem como grande força os atletas formados nas categorias de base. A multinacional Internazionale de Milão, comandada pelo português José Mourinho, foi o time do ano.

O que você vai ler agora ou clicando nas notícias abaixo faz parte de uma série de reportagens especiais produzidas pela equipe do ESPN.com.br, relembrando o que de melhor aconteceu no ano de 2010. Já revivemos os principais fatos dos esportes norte-americanos, a conquista brasileira no Mundial do vôlei, os campeões pelo futebol brasileiro, as derrotas da nossa seleção nos mundiais masculino e feminino de basquete, a Libertadores do Inter, que abriu uma discussão sobre o melhor clube brasileiro da década, as grandes lutas do MMA, a temporada dos esportes de velocidade, o fracasso do trio-de-ferro paulista e a Copa do Mundo na África do Sul.

Há quem não goste. Quem considere o treinador português prepotente, arrogante ou simplesmente um “mala”. No entanto, é impossível não reconhecer o valor de Mourinho como técnico e o fato que 2010 foi o ano dele. Neste caso, as conquistas com a Internazionale ou o contrato milionário assinado com o Real Madrid são apenas detalhes. O fato é que Mourinho dominou os noticiários em todo o planeta. Seu nome foi o que mais brilhou em plena semana de decisão da Uefa Champions League, o torneio de clubes mais importante do mundo, entre Inter de Milão e Bayern de Munique. 2009 foi o ano de Lionel Messi, que impressionou o mundo com sua técnica refinada. Já 2010 com certeza foi de José Mourinho, que vibrou, polemizou e chamou para si o foco, mesmo comandando um elenco cheio de estrelas no Real Madrid. Mas esta história começa dois anos atrás, em junho de 2008.

Construindo o caminho das conquistas

Quando contratou Mourinho para assumir o comando técnico da Internazionale, Massimo Moratti, presidente do clube italiano, tinha como pretensão levar o time "nerazzurro" novamente ao título da Champions, algo que não acontecia desde 1965. O português tinha um plano traçado que passava por contratações de peso, como a do meia Lampard, treinado por José Mourinho no Chelsea, e do atacante camaronês Samuel Eto'o. Mas Moratti não obteve sucesso, e a equipe milanesa começou a temporada 2008-2009 sem grandes mudanças no elenco em relação ao que foi tricampeão italiano.

Todavia, o talento de Mourinho em sua profissão é notório. Talento que lhe rendeu diversos elogios do novo chefe na mídia europeia. "Acho ele o melhor técnico do mundo. Estou convicto de ter contratado o melhor que estava em circulação. O mais bonito é ver o entusiasmo com que os jogadores trabalham", afirmou Massimo Moratti ao jornal "La Gazzetta dello Sport" em setembro de 2008. Certamente o padrão de jogo adotado por Mourinho já fazia da Inter um time diferente.

A temporada seguiu. E foi em um duelo contra o Manchester United, velho rival de Mourinho no futebol inglês, que o objetivo de ganhar a Champions foi interrompido. O empate sem gols em Milão, em fevereiro, dava esperanças de classificação no "teatro dos sonhos", apelido do Old Trafford. local do jogo de volta. Porém o adversário tinha Cristiano Ronaldo, recém eleito melhor jogador do mundo que fazia justiça à escolha. E num palco com nome sugestivo, o sonho interista em 2009 acabou precocemente em março.

Mais tarde veio a conquista do Campeonato Italiano, o quarto consecutivo. Taça que dava certeza de sequência do bom trabalho na próxima temporada. A janela de contratações se abriu, e Massimo Moratti foi às compras. O meia brasileiro Thiago Motta e os atacantes Kerlon (famoso pelo drible da "foca") e Diego Milito foram as primeiras peças a chegar. Mas Mourinho achou pouco e disparou. "Não é a equipe que eu sonhava há dois meses. Logo, os objetivos serão adaptados a esta realidade. Vou trabalhar ainda mais, mas não posso fazer milagres. Não sou Merlin ou Harry Potter", disse o técnico.

O choro deu certo, e a partir daí as mais importantes transferências foram realizadas. O Barcelona aceitou liberar o camaronês Samuel Eto'o como parte do pagamento na contratação do sueco Ibrahimovic, destaque na temporada 2008-2009. O brasileiro Lúcio, que havia sido liberado pelo Bayern de Munique, também foi contratado para suprir a ausência de Materazzi, lesionado, na zaga. Dispensado pelo Real Madrid, o holandês Wesley Sneijder acertou com a Internazionale. O meia Muntari chegou para compor o elenco. Na janela da virada de ano foi contratado o atacante Pandev, última peça do elenco.

Conquistas de uma equipe “sem nação”

Os campeonatos começaram, e a Inter de Milão seguia com força no italiano e na Champions League, terminando em segundo lugar em um grupo com Barcelona, Rubin Kazan e Dynamo de Kiev. Mais uma vez o sorteio das oitavas de final não foi generoso com os italianos. Logo no primeiro mata-mata, a Internazionale teria pela frente o Chelsea, ex-clube de Mourinho. No primeiro jogo, vitória em San Siro por 2 a 1. No duelo de volta, em Londres, Mourinho surpreendeu a todos com um esquema ofensivo. Além de conseguir a classificação, o português alcançou a difícil proeza de vencer os ingleses no Stanford Bridge: 1 a 0 para os italianos.

Na fase seguinte, enfim um confronto teoricamente mais fácil. Algo que se confirmou na prática. Duas vitórias por 1 a 0 e vaga na semifinal da Champions após sete anos. Mas o próximo adversário seria um verdadeiro teste. Afinal, não há nada que dê mais moral para uma equipe de futebol do que derrotar o melhor time do mundo.

Dia 20 de abril de 2010. Este foi o dia em que a Internazionale subiu de patamar e mostrou ao mundo que de fato tinha condições de conquistar a Champions League. Após sair atrás no placar, os italianos buscaram forças para empatar o jogo contra o Barça. A Inter mudou de postura no segundo tempo e mostrou eficiência ao anular Lionel Messi. Foi de uma bola roubada do argentino por Thiago Motta que nasceu o gol da virada. Milito ainda ampliaria a vantagem, e o expressivo placar de 3 a 1 ante os melhores do mundo mudou o panorama da disputa. No Camp Nou, dia 28, com um jogador a menos (o brasileiro Thiago Motta foi expulso) desde a metade do primeiro tempo, os "neroazzurros" perderam por apenas 1 a 0, resultado que garantia lugar na decisão da Champions após 38 anos.

No mês seguinte começaram as conquistas. Não perca a conta. Em maio, o clube milanês venceu a Copa da Itália contra a Roma. Dias depois veio o troféu do Campeonato Italiano, com 82 pontos ganhos em 38 jogos e somente quatro derrotas. No fim do mês veio o grande momento “italiano” na temporada. Antes, explicamos as aspas. Dos 11 jogadores titulares da Inter na final contra o Bayern de Munique, nenhum era italiano. Três brasileiros, quatro argentinos, um holandês, um romeno, um macedônio e um camaronês fizeram parte desta matemática. No banco de reservas, Toldo, Balotelli e Materazzi eram os únicos nascidos na Itália que poderiam participar da decisão, porém apenas o zagueiro foi presenteado com esta possibilidade.

Após um jogo com amplo domínio da Internazionale, a conquista da Champions deu fim a um jejum de 45 anos. De quebra, veio um triplete inédito na história do clube, façanha igualada por poucos na Europa. Além de Mourinho, o atacante argentino Diego Milito foi um dos símbolos destes títulos, já que marcou gols em todas as partidas decisivas nas três competições. Durante a semana que antecedeu a final contra o Bayern, o comandante e cartolas interistas conversavam com dirigentes do Real Madrid para negociarem a ida do português para o clube espanhol. No dia 31 de maio, José Mourinho foi apresentado oficialmente como novo treinador do time merengue e entrou para história como o mais bem pago treinador de todos os tempos.

Em agosto, já sob o comando de Rafa Benítez, veio a taça da Supercopa Italiana, com nova vitória sobre a Roma. Nem mesmo o fraco segundo semestre, a 7ª colocação no Italiano e a nova troca no comando técnico (sai o espanhol Benítez, entra o brasileiro Leonardo) impediram com que os milaneses brilhassem. Na final do Mundial Interclubes, a Internazionale superou a “zebra” africana Mazembe, que havia eliminado o Internacional de Porto Alegre na semifinal do torneio por 2 a 0. O único título que escapou foi a Supercopa Europeia contra o Atlético de Madri (campeão da Uefa Europa League), em agosto, impedindo que elenco repleto de estrangeiros fizesse ainda mais história ainda e igualasse o Barcelona de 2009.

Comando galático

Seis dias após a conquista da Champions, a Internazionale chegou a um acordo com o Real Madrid. Mourinho, enfim, iria preencher um buraco em sua carreira. Massimo Moratti não cessou os elogios ao treinador, de saída do clube. O cartola inclusive facilitou a transferência como forma de "agradecimento" pelas conquistas alcançadas.

José Mourinho chegou em Madri com status de ídolo. Evitar que o maior rival merengue, o Barcelona, disputasse a final da Champions League no Santiago Bernabeu foi encarado pela torcida como um primeiro grande serviço prestado ao clube espanhol. E o português não deixou de melhorar ainda mais sua imagem com os madrilenhos. "Gosto de ganhar dos melhores, e por isso posso dizer que gostei mais de ganhar do Barcelona do que a final", disparou.

Na apresentação oficial, Mourinho elogiou o plantel do Real Madrid, mas fez um apelo por reforços. "Um treinador sem uma grande estrutura não é um grande treinador, e eu sempre quero ter os melhores para trabalhar comigo", disse o técnico. Florentino Pérez viu o pedido como um ordem. Di María, Ozil, Khedira e Ricardo Carvalho foram contratados. Mesmo iniciando um novo trabalho, o português conseguiu passar aos jogadores sua filosofia de jogo no futebol.

O Real Madrid seguia com uma temporada impecável, liderando o Campeonato Espanhol e o grupo G da Uefa Champions League. Em meio a esse percurso, uma convincente vitória sobre o Milan por 2 a 0 pela competição europeia. E então veio o grande teste novamente. Desta vez, a equipe de Mourinho falhou. No duelo contra o Barcelona, dia 30 de novembro, os novos galáticos foi facilmente derrotados por 5 a 0. A única queda do português no comando dos merengues (são 25 jogos, com 20 vitórias e quatro empates).

Mesmo com a derrota, fácil de digerir na opinião de Mourinho, o Real se manteve bem e sem crise. Padrão de jogo o clube do Santiago Bernabeu já tem. Resta apenas o entrosamento perfeito, coisa que o rival Barcelona tem há três anos. Com o inconsistente Lyon pela frente na Champions e o segundo lugar no Campeonato Espanhol, o português segue com boa possibilidade de continuar vencendo. 2010 foi um grande ano para José Mourinho. 2011 pode ser ainda maior.

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