sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Populares fazem sacrifício para 'sair na frente' na São Silvestre

Aperto, empurra-empurra, horas em pé... um sacrifício destinado àqueles que se dispõem a ficar entre os primeiros corredores do pelotão popular da São Silvestre, que realiza sua 86ª edição nesta sexta-feira. Mais de duas horas e meia antes da largada cerca de 200 pessoas já se acumulavam na esquina da avenida Paulista com a rua Itapeva, onde estava o bloqueio que os separava da área reservada à elite.

Em média, os primeiros corredores populares começam a se posicionar no local por volta do meio-dia, mas há quem apareça bem antes. "Cheguei às 7 horas da manhã aqui, vi um lugarzinho, fui para o hotel, voltei para às 8h45 e estou aqui até agora", contou o catarinense Vanderlei Lopes, que se prepara para correr a prova pela primeira vez.

Duas são as justificativas dos corredores para se posicionar no início da massa de 21 mil corredores: se livrar do acúmulo de gente para desenvolver um bom ritmo e ser filmado pela televisão. Este último é o caso do mineiro Adelson Dias Ferreira, que estava fantasiado de cowboy.

"Quero aparecer na televisão", comentou o atleta, que não dispensou nem as botas, com as quais garante correr e completar diversas corridas pelo país. "Não tem nenhum problema, não, já estou acostumado", emendou, dizendo que o trabalho que exerce em uma fazenda é mais pesado.

Já Deolindo Braga, de 59 anos, é do grupo que não quer ficar desviando de boa parte dos milhares de participantes da São Silvestre.

"Vale a pena porque a gente faz uma corrida boa, dá aquele tiro e pega uma velocidade e deixa todo mundo para trás para se posicionar melhor na corrida", explicou o capixaba que em sua quarta São Silvestre trouxe o irmão gêmeo, Amarilio Braga, para correr pela primeira vez. "Já estou adotando essa corrida como uma grande namorada minha. Adorei ficar aqui e vou ficar sempre na frente", garantiu o estreante.

Além do cuidado de não mais sair da área nas quatro horas que antecedem a corrida para não perder o lugar, os "primeirões" da São Silvestre fazem uma espécie de kit para aguentar o cansaço: trata-se de uma sacolinha com frutas, carboidratos, água, protetor solar e uma garrafinha vazia para fazer xixi, se a vontade apertar.

"É mais cansativo ficar aqui do que correr. O sol prejudica bastante e as pernas ficam travadas", admite o paranaense Eloí Valentim Andrade, que até arrumou um espacinho para se sentar no asfalto e ainda assim permanecer na primeira fila de corredores. "Quando falta uns 15 minutos tem problema, pois o pessoal começa a empurrar", comentou.

Já o catarinense Marco Aurélio veio com um grupo de 40 pessoas de Itajaí (Santa Catarina), todas posicionadas na frente. E vê vantagens na escolha. "Lá está atrás você toma muito soco, o pessoal faz xixi e joga na gente. Aqui na frente é melhor", assegurou.

Mas, apesar do esforço e do tempo todo de espera, nenhum quer sair de lá. O novato Vanderlei Lopes, por exemplo, não poderia estar mais feliz. "Já muito me emocionei vendo essa corrida, muito chorei vendo pela TV. É o meu sonho de criança estar aqui e está valendo muito a pena, com essa festa e essa gente maravilhosa aí", finalizou.

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