Advogado desafia autoridades e defende que substância EPO não é dopante
Em agosto de 2009, cinco dos 44 atletas brasileiros convocados para o Mundial de Atletismo na Alemanha foram flagrados em exame antidoping, todos por terem feito uso da substância Eritropoetina, a EPO. A mesma é considerada proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Eis que um ano e seis meses depois, o advogado Marco Antônio Martins Ramos propõe uma revolução no assunto ao cravar que a EPO aplicada com acompanhamento médico não é dopante.
Ramos é o defensor do fisiologista Pedro Balikian, responsável por receitar a EPO aos atletas Bruno
Tenório, Jorge Célio Sena, Josiane Tito, Luciana França e Lucimara Silvestre. Segundo ele, a droga só não é liberada por interesses de quem lucra com o esporte de alto rendimento e até pode ser usada para a cura de alguns traumas em atletas em alguns casos.
"Não, a gente não pode generalizar, não é. Esse hormônio é 'dopante!' Nós não podemos generalizar. Nós temos que ver em que situação, em que quantidade, em que circunstância, para que foi usado, onde foi usado", afirmou o advogado em entrevista exclusiva ao programa Histórias do Esporte, da ESPN Brasil. "Tem atletas que estão submetidos a traumas que precisam ser curados. Eu acho que em alguns casos, o uso do EPO, como o uso de outros anabolizantes, é até uma necessidade médica para àquele atleta que está colocado naquela situação absolutamente incomum, de esforço sobrenatural", continuou.
Marco Antônio Martins Ramos conhece muito do assunto, motivado pela defesa de seu cliente, Balikian, e garante que apenas a usabilidade sem orientação pode acarretar em problemas. "O EPO, se você fizer o uso do EPO, o que vai acontecer? Ele vai produzir mais hemáceas, que são os glóbulos vermelhos no sangue. A morte é o uso indevido, vamos fazer o uso devido. E eu estou falando de tecnologia, não estou falando em droga", explicou.
EPO como tentativa de igualdade entre os atletas
O advogado de Balikian, que segue em silêncio, não economizou nas palavras à reportagem da ESPN Brasil e até defendeu a substância oficialmente proibida como meio de democratização no esporte de alto rendimento. "O uso do EPO é contra a ética. Mas quem que estabeleceu qual é essa ética? Ela não fere a ética esportiva porque se ela for usada dessa forma, moderadamente, ela é a única possibilidade que determinados atletas terão de estar em condições de igualdade com àqueles outros que têm condições especiais de treinamento", argumentou.
"Esse grito que nós queremos dar é em defesa do atleta. Por quê? Porque ele é orientado a fazer uso disso [da substância]", seguiu. Marco Antônio Martins Ramos propõe uma nova discussão jurídica sobre o tema, defende uma mudança na ligislação e o fim da hipocrisia. "Quando à hipocrisia denominam ética" é o título do trabalho que prepara.
Tirar o 'rótulo', legalizar a EPO e acabar com os interesses
Segundo o advogado de Pedro Balikian, quando um atleta brasileiro se destaca, ele é levado para fora do país. E terceiros lucram com isso, já que o valor para a manutenção destes no exterior é altíssimo. A liberação da Eritropoetina acabaria com os ganhos destes intermediários que tanto ganham, garante Ramos.
"Nós somos hipócritas, todo mundo faz uso, rapaz. Nós compramos esse espetáculo, nós sabemos o custo disso para o atleta. Tira o rótulo, traz essas pessoas para a legalidade, assina embaixo o que você está fazendo, se responsabiliza por isso, que nós vamos ter um esporte de qualidade da mesma forma, mais competitivo, porque mais pessoas terão acesso a essa tecnologia, nós teremos um esporte melhor e acabamos com alguns interesses", desfiou.
"Qual é o único argumento que sobra para estes hipócritas que defendem esse conceito? Nós estamos
defendendo a saúde do atleta! Agora, se está com acompanhamento médico, se existe um atestado médico falando que aquele uso para aquele caso é recomendável, se você tem um fisiologista falando que aquilo para aquele atleta é bom para saúde dele, é necessário", segue argumentando o advogado.
Exames em xeque
Ramos garante que com acompanhamento médico, os efeitos colaterais da EPO seriam minimizados. Era o que fazia o fisiologista Pedro Balikian com todos os 14 atletas da equipe de atlestismo treinada pelo técnico Jayme Netto. Agora, por que só cinco foram pegos no exame antidoping? Os testes são confiáveis? O advogado diz que não.
"Não são confiáveis. Por quê? Porque você não tem um método absolutamente seguro de detectar. Nós estamos falando de um hormônio, tem hormônios aí que não têm até hoje exames capazes de detectar. Porque ainda que você detecte a quantidade maior daquilo que ele produziu, você não tem condição de saber se foi produzido naturalmente ou artificialmente", argumentou.
Ramos ainda deu um exemplo de como ludibriar os testes antidoping. "O atleta tira um litro de sangue, armazena esse sangue, aí o próprio organismo dele recompõe. Aí ele devolve esse sangue para o organismo. Ele aumentou as hemáceas. E aí? Ele conseguiu uma situação que não tem exame de doping que vai pegar ele."
O advogado segue, de forma contundente, sua defesa da EPO. "Chegou o momento de a gente admitir que esta tecnologia é o que existe no esporte hoje. "Nós não podemos colocar um rótulo: é doping e ponto final! A coisa é casuística, é caso a caso, é indivíduo por indivíduo. Ou a gente sistematiza isso, traz isso para o papel e traz essa situação para uma situação de legalidade, ou isso continua existindo do jeito que sempre existiu e vai continuar existindo, na clandestinidade. Aí sim nós corremos o risco de estar prejudicando a saúde desses atletas", encerrou.
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