sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sul-americana vale taça e é maior que a vaga na Libertadores

Virou moda. Agora os brasileiros não torcem para que seus times ganhem taças, mas sim vagas. Vagas na Copa Libertadores, vagas no Mundial de Clube da Fifa, vagas na Copa do Brasil, vagas, vagas, vagas... Deveriam esvaziar as salas de troféus dos clubes e enchê-las de... vagas. Sim, no lugar da taça de campeão uma plaquinha de acrílico com a frase: "Ganhador da vaga na Copa Libertadores..."

Se a coisa seguir nesse ritmo, os jogadores darão voltas olímpicas comemorando a conquista da vaga, torcedores festejarão a noite toda por causa da... vaga. Revistas e jornais trarão pôsteres e portais da internet farão hot-sites especialmente para celebrar a obtenção de uma... vaga. Troféu? Taça? Grito de campeão? Que nada, isso será coisa do passado.

Imaginem o torcedor do time vencedor da Copa do Brasil deixando de berrar a plenos pulmões "É campeão" para cantarolar, "Aha-Uhu, a vaga já é nossa! Aha-Uhu, a vaga já é nossa". Patético, não? É esse o papel que você pretende desempenhar na arquibancada após um triunfo do seu time?

Claro que chegar em terceiro ou quarto no campeonato brasileiro e assegurar classificação para a Libertadores é algo positivo. E deve ser estipulado como objetivo se conquistar o título virar meta impossível. Mas daí a achar que uma taça de campeão da Copa do Brasil ou da Sul-americana só tem valor porque esses torneios levam o primeiro colocado à Libertadores é uma inversão de valores.

A taça vale muito, sempre. Algumas mais do que as outras, claro. A comemoração efusiva de um título, mesmo um campeonato estadual, faz todo sentido. O que não tem lógica, a meu ver, é time grande se contentando com triunfos domésticos, achando que um estadualzinho basta. Se é mesmo grande tem que desejar mais do que isso. Mas festejar um título dentro do Estado é legítimo, claro.

Deplorável ouvir de alguns são-paulinos frases arrogantes que desmerecem a Copa do Brasil só porque o time voltará a disputar o torneio após sete anos na Libertadores. Aliás, impedir que os participantes da principal competição continental lutem pelo troféu da Copa nacional é mais uma aberração que só poderia ter a assinatura da CBF mesmo.

Evidentemente ganhar uma Libertadores é algo maior do que conquistar o título nacional, que vale mais que a Copa do Brasil, por sua vez maior que um Estadual, que supera a importância de uma Taça Guanabara, por exemplo. E a Copa Sul-americana? É um título internacional, a meu ver já tem peso maior que o da Copa do Brasil, pela repercusão fora do país.

Claro que a Conmebol, tão incompetente quanto a CBF, não valoriza como deveria o seu segundo torneio entre clubes. Há confrontos domésticos demais e os critérios de classificação nem sempre são razoáveis. Mas ganhá-la é muito bom. Se você duvida, veja os vídeos abaixo e seus emocionantes momentos. São, todos, da Copa Sul-americana, tá?

San Lorenzo campeão 2002
Após os 4 a 0 em Medellín sobre o Atlético Nacional, o Ciclón arrebatou mais um título internacional (havia levantado a Copa Mercosul em 2001 ao superar o Flamengo nos pênaltis) num empate sem gols no Nuevo Gasometro. Os times brasileiros não disputaram esta edição. Azar deles.



Cienciano campeão 2003
Jamais um time peruano havia conquistado um torneio continental. Antes, apenas dois vices da Libertadores, com o Sporting Cristal na final da Libertadores com o Cruzeiro, em 1997, e o Universitario, que perdeu para o Independiente a decisão de 1972. Festa, muita festa na altitude!




Boca Juniors campeão 2004
Se o San Lorenzo e o Cienciano não estavam acostumados a títulos internacionais e por isso festejaram, o que dizer da euforia do Boca Juniors, campeão em 2004? Os xeneizes comemoraram alucinadamente a Sul-americana, parecia até uma... Libertadores! E ainda dizem que "esse torneio não vale nada". Avisem em La Bombonera.




Boca Juniors bicampeão 2005
Mais uma taça para a coleção do time seis vezes campeão da Libertadores. O apetite por taças do "copero" clube de Buenos Aires não acaba. E se outros desprezam aquela copa, azar deles. E tome troféu a rechear a bela sala instalada sob as arquibancadas do legendário estádio boquense.




Pachuca campeão 2006
Observe a festa dos torcedores do Colo-Colo, que perdeu a final em casa diante do time mexicano. No 1 a 0, gol de Suazo, os hinchas chilenos vão à loucura. Era uma taça em jogo, motivo de interesse total para o único time do Chile campeão da Libertadores até hoje. E os mexicanos festejaram.




Arsenal campeão 2007
O pequeno clube de Sarandí chegou à decisão com o América do México. Venceu por 3 a 2 fora de casa e levou muita gente ao Cilindro de Avellaneda para o jogo de volta. Mas os mexicanos fizeram 2 a 0. Veja, no vídeo, a pressão dramática até o gol histórico do experiente Martín Andrizzi. Festa total na chancha do Racing. Uma das decisões mais incríveis do torneio.




Inter campeão 2008
O Internacional conquistou o mundo em 2006, mas fracassou na Libertadores seguinte, eliminado na fase de grupos. Em 2008, não lutou pelo título nacional nem pela volta ao maior torneio continental. A exemplo dos vizinhos argentinos, tratou a Sul-americana como se dever. Belíssima final com o Estudiantes, que seria campeão da Libertadores seguinte. Mas a taça foi colorada.




LDU campeã 2009
A Liga de Quito repetia com o Fluminense a final da Libertadores do ano anterior. Goleou por 5 a 1 no Equador e ainda assim a torcida tricolor foi em peso ao Maracanã. O time carioca venceu por 3 a 0, faltou um gol numa grande decisão, encarada como final de verdade. Veja dois vídeos, a festa da torcida com um tremendo mosaico e o jogo dramático. Observe a reação do experiente técnico uruguai Jorge Fossati, da LDU. Ah, sim, isso não vale nada, né?

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