sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Jorginho, o mercado de técnicos e as feridas de uma Copa

Hoje gravei o primeiro Bola da Vez da minha carreira aqui na ESPN. O entrevistado: Jorge de Amorim Campos. O Jorginho, grande lateral-direito do nosso futebol e assistente de Dunga na última Copa do Mundo.

Foi uma entrevista muito bacana e vai ao ar neste sábado, às 23h30, na ESPN Brasil. Mas, como em todo programa com tempo limitado, não consegui fazer uma pergunta que queria ter feito. Tive, ainda bem, a chance de falar com Jorginho após a gravação. E temos, ainda bem, essa espetacular ferramenta que é a Internet, onde o espaço é infinito.

Jorginho foi praticamente o técnico da seleção por quatro anos. Ele gosta de dividir todos os méritos com Dunga, mas, especialmente nos primeiros anos, era nítido que o assistente comandava a maior parte dos treinos e era a cabeça por trás da tática brasileira em campo. Um jeito de jogar que, temos que reconhecer, deu certo.

O Brasil montou um baita time em quatro anos, que sabia exatamente o que queria em campo. Um time com três homens adiantados, muito comprometidos taticamente e que pressionavam a saída de bola rival. Um time que contava com um sistema defensivo sólido e gostava de jogar em velocidade quanto recuperava a bola. Enfim, não quero aqui dissecar a seleção. Apenas ressaltar que, apesar de ter perdido a Copa do Mundo, o Brasil era um ótimo time, comprometido, que jogava bem e sabia o que fazia em campo.

Pois bem. Por que, então, um cara que era uma das cabeças dessa equipe, um cara que sabe de futebol, está desempregado? Será que as feridas de uma Copa do Mundo perdida são tais que acabam queimando o filme dos derrotados?

Essas eram minhas dúvidas, minhas perguntas a Jorginho.

Quem usou o termo "filme queimado" fui eu. Não saiu da boca dele. "É, acho que é mais ou menos por aí", foi o que me disse, no entanto, o técnico. Jorginho sabe que foi em alguns momentos, em algumas declarações, duro demais, agressivo demais. Sabe que tem sua imagem arranhada hoje em dia. O cara calmo dos tempos de jogador é hoje visto por muitos como um cara nervosinho e briguento.

Não à toa contratou Diogo Kotscho, assessor de imagem de Kaká e outros jogadores, para trabalhar com ele. Sabe que precisa melhorar a percepção que as pessoas têm dele para, então, ter mais portas abertas no mercado.

Antes da Copa do Mundo, Jorginho foi procurado pelo Flamengo. Depois da Copa, só sobrou o Goiás. Um clube em situação desesperadora na Série A, à beira do abismo, despedaçado dentro e fora de campo. Com toda a dança das cadeiras que rolou durante o Brasileirão, só uma foi oferecida a ele. E uma toda corroída por cupins.

O papo com Jorginho depois da gravação do programa foi revelador neste sentido. As marcas da Copa são tão profundas que, hoje, o mercado está praticamente fechado para ele. Tanto que a possibilidade de trabalhar fora do Brasil já é vista com bons olhos. "Lá na Alemanha eles me conhecem bem. Se pintar um convite, eu vou embora para lá", me falou Jorginho.

Não senti, no entanto, que esse seja seu grande desejo.

Acho que Jorginho quer brilhar aqui no Brasil. Para isso, não tem jeito. Vai ser aos poucos. É recuperar a imagem, fazer um bom trabalho em algum clube para, então, girar a maçaneta e tocar a vida para frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário