segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

'O Brasil é uma conta pendente', afirma Iniesta

Andrés Iniesta fala como joga: pausado, seguro, claríssimo, na ponta dos pés. Tem o olhar franco e brilhante, sempre direto para o interlocutor, como se quisesse reafirmar tudo o que diz. Está parado em uma cadeira rosada de estilo francês, em uma sala ampla, porém fechada, do Hotel Imperador de Buenos Aires. Ele é idêntico ao que se vê na TV. Nem mais alto, nem mais gordo, nem mais rápido. Sempre tem um sorriso no rosto. Para esta entrevista ou para fotos com os torcedores.

A passagem dos campeões mundiais por Buenos Aires, em setembro, para um amistoso com a Argentina, desencadeou uma onda de fanatismo como poucas vezes se viu. A equipe espanhola é simpática porque traz as mesmas caras vistas semana a semana na TV nos jogos da Liga, porque as crianças conhecem os envolvidos muito mais que vários jogadores locais – o efeito PlayStation –, e porque joga um futebol que satisfaz o gosto sul-americano. Iniesta foi, talvez, o mais ovacionado. Com a simpatia e a amabilidade dos brasileiros, tirou fotos, autografou camisetas e trocou uma palavra ou outra com os torcedores. Sem pressa, como se estivesse em campo. Com o mesmo ritmo preciso, pretende, dentro das quatro linhas, ajudar a Espanha a tornar-se uma das maiores seleções da história do futebol.

A Espanha é o novo Brasil?

Bem, não. Simplesmente somos a Espanha. O estilo de jogo e a forma de sentir o futebol dos sul-americanos nos encantam e entendo as comparações, mas não pretendemos imitar nada.

No relacionamento, também se parecem bastante: tratam as pessoas muito bem, como o Brasil histórico.

Somos os protagonistas de um jogo e devemos isso ao público. Tivemos uma recepção linda na Bombonera. Saímos pelas ruas e as pessoas nos param, saúdam, dão seu afeto. É o mínimo que podemos fazer.

E no aspecto futebolístico, como veem as equipes sul-americanas em relação a vocês?

A América do Sul fez um grande Mundial. Tivemos a possibilidade de jogar contra um Chile muito ofensivo, contra um Paraguai que foi um rival muito duro. Todos viram onde chegou o Uruguai... E todos sabem que Argentina e Brasil estão à altura da Espanha. Jogamos este amistoso contra a Argentina em que se viu o talento de seus jogadores, e eu ainda tenho o prazer de ver Messi jogar todos os dias. O Brasil para nós é uma conta pendente. Outro dia Iker [Casillas] lembrava que faz tempo que não nos enfrentamos e, na verdade, seria muito bonito jogarmos, porque o Brasil sempre é uma referência para saber em que nível se está.

O que sente, então, quando o técnico argentino Sergio Batista diz que o exemplo é a Espanha?

É muito lindo. Quer dizer que deixamos algo, que temos uma marca própria.

Acredita que quando olhar para trás, dentro de alguns anos, vocês podem ser comparados ao Brasil de 1970 ou à Holanda de 1974, pelo estilo e por aquilo que causaram?

Tomara que possamos ser lembrados como estas duas equipes que fizeram história. Não é fácil fazer o que fez este grupo: ganhar uma Eurocopa e um Mundial. Creio que, pela idade que temos, podemos escrever algumas páginas a mais.

Quem pode duvidar dele?

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