sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A próxima Sharapova

Há um vídeo no Youtube de Maria Shishkina, 12 anos, de pé se equilibrando sobre uma grande bola de exercício prateada. Se você pensa que isso é fácil, tente. Quando conseguir ficar em pé, tente agarrar algumas bolas. Provavelmente você cairá – tantas vezes quantas decidir tentar – e depois desistirá, frustrado. Só que Shishkina está calma, conversando e rindo enquanto brinca de jogar bola com um técnico, suas coxas fortes mantendo-a estável sobre a bola instável. Além de seu cabelo loiro preso em um grosso rabo de cavalo, as coxas são a característica mais definidora de Shishkina – e os dois motivos pelos quais esta criança miúda é a mais nova aposta do tênis.

Em um dia fresco de inverno em Bradenton, Flórida, a musculatura de Shishkina fica totalmente à mostra enquanto ela treina em uma das muitas quadras na IMG Bollettieri Tennis Academy, por onde passaram nomes como Andre Agassi e Jim Courier. Sua mãe, Marina, observa, usando sapatos de salto alto. “Há quatro anos, viemos para cá direto do aeroporto de tá¬xi. Eu não falava nada de inglês, mas eles tinham alguém que podia traduzir. Eles me perguntaram por que eu havia vindo. Respondi: ‘Preciso de uma bolsa de estudos. Trouxe uma estrela para vocês.’ Agora posso dizer que estava certa”, relembra.

Está bem, está bem: 12 anos é jovem demais para dar a alguém a alcunha de “estrela”, mas quem conhece bem Shishkina já a chama de a próxima Sharapova. Como a outra Maria, esta saiu nova de seu país (Cazaquistão), com apenas um dos pais (Igor, o pai, um ex-boxeador, tem problemas em conseguir um visto) para perseguir o sonho de jogar tênis nos Estados Unidos. Como Sharapova, é orientada pelo lendário Nick Bollettieri.

Shishkina tem bíceps e tríceps que combinam com as coxas, e seus calçados tamanho 38 indicam que ela será alta. Embora seja jovem demais para levantar pesos, passa cinco horas por dia na quadra e na academia, trabalhando com faixas de resistência, fazendo movimentos de ioga, treinando futebol, patinando e jogando basquete. “Sua plataforma de treinamento é um bom exemplo do que estamos tentando promover para todos os nossos atletas”, afirma Steve Battista, chefe de marketing da Under Armour, marca de roupas que patrocina sua carreira.

Em Shishkina, a Under Armour vê uma oportunidade de se destacar no tênis (a empresa foi responsável por apenas 4,4% do mercado de vestuário e calçados para a modalidade em 2009). Será que Shishkina pode oferecer um retorno do investimento, um contrato de cinco anos no valor de US$ 350.000, mais bônus? É cedo demais para dizer. Até os prodígios mais bem-sucedidos do tênis feminino só começam a vencer os Slams quando chegam à adolescência (Martina Hingis venceu três em 1997, aos 16 anos; Sharapova venceu Wimbledon em 2004, aos 17), o que significa que pode levar anos até sabermos com certeza se Shishkina é para valer. “O ponto de vista inteiro dela pode mudar”, diz Bollettieri. “Ela pode se ferir, pode conhecer um garoto.”

No momento, suas prioridades parecem incrivelmente focadas na quadra. Shishkina estuda em casa com uma tutora para acomodar seu cronograma de treinamento. Tem uma ética de trabalho que faria a maioria dos profissionais se envergonhar, e uma certa arrogância. Ela anda de nariz empinado e peito aberto, como se desafiasse o mundo a jogar com ela. “Um dia, quero que as pessoas digam que mudei a forma de jogar tênis, ou que eu era uma lenda, ou a número 1 por muito tempo, ou quebrei recordes”, afirma. “Significa muito quando as pessoas dizem que posso virar uma estrela. Isso me motiva.”

É claro que Shishkina também admite gostar de cachorrinhos, de jogar Wii e ter a mãe ao lado da quadra durante os jogos. Então, ela ainda é uma criança. Embora seja uma com coxas enormes.

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