De "macaquitos" a macacos velhos em 14 minutos
Punta del Este mais que uma surpresa para os gringos e um sucesso esportivo para os brasileiros é um marco, uma mudança de patamar que se consolida.
A seleção brasileira de seven-a-side voltou de Punta del Este no Uruguai com um histórico terceiro lugar no torneio mais glamoroso do continente.
Não é pouca coisa, tanto é que a performance brasileira chamou atenção da mídia presente e no twitter o pessoal comentou que uma das grandes lendas do rúgbi moderno, Jonah Lomu, ficou surpreso com o Brasil.
Se Lomu realmente ficou surpreso nós brasileiros já não estamos mais. O nível do rúgbi de sete brazuca apresentado em Punta del Este já vem incomodando Uruguai e Chile há alguns anos, o Paraguai nosso ex-eterno rival ficou para trás.
O sucesso em Punta del Este consolida a mudança de patamar técnico e atlético da seleção brasileira. Reflexo da evolução dos clubes que passaram a encarar o seven de forma séria, alguns clubes com dias específicos de treinos.
Acredito que as cinco grandes forças do seven brasileiro colocariam clubes chilenos, uruguaios e até alguns argentinos no chinelo. E se o dinheiro permitir e os clubes colocarem um olho nos torneios de seven mais legais que acontecem no continente sul americano os clubes brasileiros crescerão ainda mais.
A certeza dessa mudança de patamar pode ser medida mais na partida contra o Uruguai do que na semi-final contra Salta, perdida nos detalhes de uma partida de somente 14 minutos.
Porque eu imagino que nos 14 minutos de jogo contra a equipe da casa e até então nosso rival muito superior, ocorreu uma mutação no simbólica (aqui meus professores de semiótica devem ter pulado nas suas cadeiras). Os brasileiros entraram em campo muito provavelmente ouvindo troças dos torcedores que tanto no Uruguai como na Argentina se acostumaram a pejorativa com a alcunha de “macaquitos” do Brasil e saíram de campo com a malemolência carioca (dessa vez com a significância brasileira na acepção da palavra) de macacos velhos.
O Brasil perdia a partida, 7-0, quando ficou sem um jogador, Moises Duque levou o cartão amarelo. Jogar seven com um jogador a menos é muito difícil, demanda técnica, paciência, tarimba, físico, etc e etc. Em outras palavras, para sustentar uma partida de seven contra uma equipe como a do Uruguai e não deixar o adversário fazer pontos mesmo com um homem a menos em campo, é preciso ser macaco velho.
Somos macacos velhos agora, porque temos um nível fortíssimo de rúgbi de sete na nossa cozinha.
Ainda mais agora com um ciclo olímpico de 7 anos, com os dois primeiros anos já vencidos e uma massa de 200 milhões de “cariocas”, (agora na acepção carinhosa da cobertura uruguaia), dos mais variados “shapes” e mentalidades que vai alimentar nosso rúgbi. A mudança de paradigma está aí (que me perdoe a Topper), mas não cabe mais ficar feliz com as derrotas e entrar na seleção brasileira já não é mais fazer turismo pela America do Sul.
Hoje temos torcedores fanáticos que nunca deram um tackle, temos apoiadores incontestes, rivalidades sadias e não permitimos mais que “los gringos” venham e sejam reis dos nossos campos, afinal nós já temos nossos próprios ídolos.
Já podemos mudar o foco e pensar que agora precisamos ganhar da Argentina.
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