sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Se for construído, estádio de Natal quase não terá futebol
por Fernando Gavini, blogueiro do ESPN.com.br
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Entre as sedes escolhidas para receber a Copa de 2014, Natal é uma das mais problemáticas. O golpe mais duro foi sofrido na semana passada. Nenhuma das cinco empresas inscritas no edital apareceu para confirmar interesse em participar da Parceria Público Privada para a construção da Arena das Dunas, que, pelos planos, será erguida no lugar de onde hoje existe o estádio do Machadão. Uma reunião para decidir qual rumo será tomado será realizada na próxima terça-feira entre representantes do comitê da cidade e Ricardo Teixeira na sede da CBF.

Ainda não se sabe nem como nem se a Arena das Dunas vai mesmo ser construída. Mas a questão a ser levantada é: qual será a utilização do novo estádio? Que partidas de futebol vai abrigar? Vai receber jogos importantes dos grandes times da cidade?

“As empresas com quem nós conversamos e que tem experiência em gestão de estádio, dizem que é fundamental que a Arena das Dunas tenha conteúdo. A gente precisa que os times locais joguem no estádio. Senão não faz sentido fazer um investimento deste porte e não ter futebol”, diz Fernando Fernandes, gestor da Copa em Natal.





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Mas, ao que tudo indica, vai ser preciso convencer os clubes do RN a usar o local para que a obra não fique sem sentido. Os dois principais times do Rio Grande do Norte, ABC e América, não pretendem utilizar a Arena das Dunas. O ABC já tem o seu estádio: o Frasqueirão, construído em 2006, com capacidade para 18 mil torcedores, e não vai abrir mão dele. O América, que costuma mandar seus jogos no Machadão, planeja construir a Arena do Dragão em breve.

“O América, por decisão de seu conselho, aprovou uma negociação com parte da nossa sede social, onde ficam as piscinas e as quadras, área que está em desuso há uma década, com a condição de que nós incluíssemos nessa negociação um estádio”, conta o presidente do clube, Clóvis Emídio.

O local escolhido é em Parnamirim, cidade vizinha a Natal, no terreno ao lado de onde hoje funciona o CT do América. O objetivo da construção do estådio próprio é fugir dos custos altos para utilização do Machadão, que devem aumentar quando a Arena das Dunas ficar pronta.

“O custo mínimo para abrir o Machadão gira em torno de R$ 35 mil. Levando em consideração que o ingresso custa em média 15 reais, precisamos de um público de no mínimo 2000, 2500 pessoas para cobrir as despesas e não ter prejuízo. Acho exorbitante”, diz o presidente.

Além do América, o Alecrim também manda seus jogos no Machadão. E dos 46 jogos disputados ao longo do ano no estádio, apenas 12 tiveram públicos acima de 2 mil torcedores, cinco acima de cinco mil e só três com mais de 10 mil torcedores.

O recorde do ano pertence à última rodada do Campeonato Brasileiro da Série B. Lutando para não cair, o América levou 16014 pagantes para a partida contra o Brasiliense, mas foi derrotada por 2 a 1 e acabou rebaixada para a terceira divisão. Os outros jogos que superaram os 10 mil torcedores foram os clássicos entre América e ABC no Estadual (11606) e Alecrim e ABC pela Série C (10018).

Mas a realidade não é essa. Na Série B, o América teve média pouco superior a 3 mil torcedores, pouco menor da que o clube teve no Estadual. No Campeonato do Nordeste, a média despencou para 514 torcedores por partida.

“Eu penso num Arena das Dunas para jogar contra o Flamengo, contra o Corinthians, times de um apelo reconhecidamente maior. Nós havemos de mandar preferencialmente nossos jogos na Arena do Dragão, mas é óbvio que se tivermos jogos com apelo de público para mais de 20 mil torcedores, nós haveremos de adotar a praça maior até por questão de racionalidade porque ninguém pode brincar com recursos”, explica o presidente do América.

Ou seja, como o América foi rebaixado para a terceira divisão, a Arena das Dunas só receberá jogos do clube em eventuais confrontos contra os grandes do país pela Copa do Brasil a não ser que o time consiga uma improvável reação nos próximos anos para voltar à Série A e ter força para se manter na elite. Nem os clássicos contra o ABC pelo Estadual devem ser realizados no novo estádio.

“Nós jogamos contra eles no Frasqueirão e, no nosso estádio, vamos fazer com que eles passem pela mesma pressão que passamos quando jogamos por lá”, diz o dirigente.

O único que sobra para jogar na Arena das Dunas é o Alecrim, rebaixado este ano para a Série D do Campeonato Brasileiro. A média de público do clube em 2010 não chegou a 1900 torcedores. Se descontarmos os clássicos estaduais e os jogos em que o clube atuou na preliminar do América, a média despenca para 474 por partida. Os dois piores públicos no Machadão neste ano foram do Alecrim: 75 torcedores contra o Potiguar de Mossoró e 90 contra o Coríntians de Caicó, ambos pelo Estadual.

Os números mostram que o Arena das Dunas é caro demais para o futebol potiguar. Com América e Alecrim jogando no Machadão este ano, o total acumulado de renda não chegou a R$ 1,5 milhão. Para efeito de comparação, o novo estádio, quando pronto, vai custar R$ 7 milhões aos cofres públicos, valor calculado para cobrir os custos de construção e manutenção.

“A gente acredita que pela localização, pela facilidade de acesso e pelo projeto arquitetônico, nós não vamos ter só futebol. Você vai ter ações comerciais, lojas, restaurantes, capacidade de exploração para eventos. Teremos espaços que serão geridos e administrados com esse foco. Mas o futebol e outras ações esportivas, além de shows e eventos, isso sim dará receita, que com certeza vai abater da nossa contra-prestação”, defende Fernando Fernandes.

Mas o próprio gestor da Copa sabe que a conta não vai fechar. A Arena das Dunas não vai produzir a receita necessária para se pagar. Ainda assim, Fernandes acredita que vale a pena Natal receber o Mundial de 2014.

“Hoje no Rio Grande do Norte nós temos quase R$ 2 bilhões em expectativas de negócios: R$ 440 milhões na área de mobilidade, R$ 140 milhões na área de drenagem, R$ 450 milhões no novo aeroporto, o porto de Natal vai ser adequado para receber navios de passageiros, o aeroporto Augusto Severo será melhorado, o Senac está fazendo investimentos focado na Copa. Isso sem contar o estádio propriamente dito”.

Investimentos que Natal merece e precisa receber. Mas que não deveriam estar vinculados à Copa do Mundo. Deveriam ser feitos pela necessidade de crescimento da capital do Rio Grande do Norte e não estarem atrelados à construção de um elefante branco que depois do Mundial vai ficar às moscas.

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